Desânimo e desorganização entraram no vocabulário dos estudantes brasileiros. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha, a pedido da Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginables Futures, ouviu 1.021 pais e responsáveis por alunos da educação básica em todo o país. O resultado do estudo “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias” evidencia alguns desafios para a educação em tempos de pandemia e que servem de alerta para professores e gestores do ensino superior, pois tais problemas também assombram estudantes universitários.

O primeiro ponto a ser destacado é o aumento do sentimento de desmotivação entre os  estudantes do ensino fundamental e médio. Em maio, 46% apresentavam dificuldades em focar nos estudos. O percentual subiu, em setembro, para 54%. Os pesquisadores também avaliaram o percentual de alunos com  dificuldades para estabelecer uma rotina de aprendizagem em casa e constataram, também, um aumento. Passando de 58% para 64%, no mesmo período. 

A combinação desses dois fatores contribui para um outro bastante preocupante, em especial para os gestores da área de ensino; a evasão. A pesquisa aponta que 30% dos entrevistados revelou temer que seus filhos abandonem a escola. O percentual é o mesmo de maio e coincide com indicadores de evasão no ensino superior levantados por diversos órgãos, inclusive a Quero Educação, ao longo da pandemia. 

Diante disso, o Radar da Educação ouviu o professor José Alves da Silva, doutor em educação e ex-presidente da Câmara de Graduação da Unifesp, Campus Diadema. Com experiência em docência na educação básica e superior, Alves aponta para a necessidade de cada instituição avaliar o quadro emocional de seus alunos e estabelecer uma acolhida que leve-os a se manterem engajados em seus cursos, minimizando impacto no desempenho. (O artigo continua após o vídeo com a entrevista)


No regresso ao ensino presencial, a prioridade absoluta tem que ser a acolhida, defende o educador. Discutir as relações pessoais, avaliar o impacto da pandemia sobre o aluno e sua família (aspectos econômicos, emocionais e de saúde) e minimizar o comprometimento do vínculo entre alunos e professores durante o período de aulas remotas.

“A gente precisa, mais do que nunca, humanizar a relação pedagógica nesse momento para que haja um processo mínimo de aprendizagem”


Elizabeth Guedes, presidente da Associação Nacional das Universidades Privadas (Anup) lembra que esse processo de acolhida deve ser integral e incluir a recepção de toda a comunidade acadêmica. 

“Todos terão que se acolher. Funcionário e professores acolhendo aluno, alunos e professores acolhendo funcionários e alunos e funcionários acolhendo professores, porque é um reencontro em uma realidade nova. E vamos ter que ter paciência uns com os outros, nesse processo de reconstrução do nosso convívio físico”

As transformações pelas quais o ensino superior vem passando impõem adaptações pedagógicas, administrativas e na dinâmica das relações pessoais. Entender as várias faces do “novo normal” e se ajustar a elas em busca do ponto de equilíbrio fará a diferença na forma como as instituições de ensino são percebidas pelos seus alunos. 

Rui Goncalves
por Rui Goncalves
Jornalista especializado em educação.
Editor do Minuto da Educação e do Radar da Educação.