Me pergunto o que se passa na cabeça de um gestor de instituição de ensino superior quando escuta que é hora de dar “reset”, “reinventar-se”, “repensar seu modelo de negócio”. Essa foi a provocação lançada durante os três dias de duração do vigésimo segundo Fnesp. O fórum nacional para instituições de ensino superior, promovido pelo Semesp, tirou de vez a audiência da zona de conforto.


Vamos pensar em cada um desses conceitos, começando por “dar reset”. Pra quem conhece um pouco o mundo da informática, “resetar” é a ação de reiniciar um dispositivo, zerar seus registradores e recarregar o sistema operacional de forma a corrigir falhas. Uma boa metáfora para destacar as correções necessárias para ajustar o rumo do ensino superior, mas não tão simples quanto apertar um botão.

O “reinventar-se” propõe aos gestores colocarem em prática planos e ideias que tragam o ensino superior para o século 21. Novas abordagens pedagógicas, recursos tecnológicos, conteúdos mais alinhados aos interesses dos alunos e demandas vindas do mercado de trabalho. A reinvenção acadêmica vem acompanhada da reinvenção na gestão, com ganhos de eficiência e redução de custos tanto das áreas administrativas quanto operacionais.

Já a frase “repensar seu modelo de negócio” é ainda mais desconfortante, pois coloca o tomador de decisão contra a parede. Significa que não dá mais para fazer da mesma maneira o que sempre foi feito. Isso implica em aceitar o novo e estar aberto aos avanços que a tecnologia pode impor a todas as áreas da faculdade.  

Juntos e misturados, os três desafios, proposto, implicam em arregaçar as mangas e partir para a uma ação coordenada que entregue valor aos alunos e aos investidores ao mesmo tempo que garanta a entrega de qualidade educacional aos seus alunos.

Essa qualidade será o ponto central da reinvenção do ensino superior. Sobre ela recai o reconhecimento da marca e o desejo de estudar nessa ou naquela faculdade. Permite diferenciar o preço da mensalidade, tirando a instituição de ensino do círculo vicioso da commoditização da educação, no qual o único fator de distinção entre a instituição A e B é o valor mensal desembolsado pelo aluno.

Mas por onde começar?

Comece atendendo aos desejos do seu aluno. A expectativa de transformar formação superior em empregabilidade é a maior e a mais urgente delas. Diversas pesquisas apontam para isso. Uma das mais recentes, realizada pela Pearson Education, em sete países, mostra que, no cenário pós-Covid-19, jovens do mundo todo esperam que seus cursos se transformem em rápida inserção no mercado de trabalho. E eles dizem que acreditam que as instituições de ensino superior devem ter protagonismo nesse momento de crise, inclusive liderando a retomada econômica com a formação de capital humano capaz de gerar riqueza. 


Mas não são apenas conhecimentos técnicos (hard skills) que vão promover essa transformação. Durante sua participação do Fnesp, a Presidente do Conselho Nacional de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, afirmou que “as instituições de ensino superior devem preparar seus alunos para enfrentar desafios desconhecidos com habilidades e novas competências socioemocionais”, ou seja, reinventá-los. Maria Helena também valorizou o papel do professor, colocando-os em destaque em qualquer estratégia adotada pela instituição de ensino. 

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Rui Goncalves
por Rui Goncalves
Jornalista especializado em educação.
Editor do Minuto da Educação e do Radar da Educação.