As fusões e aquisições no setor de educação estão em rítmo acelerado. Chamam atenção a quantidade de negócios fechados e também a dimensão de algumas dessas negociações. Uma das maiores foi a aquisição das instituições de ensino da Laureate International no Brasil pela Ânima Educação. A transação de R$ 4,4 bilhões envolveu a troca de mãos de marcas de projeção, tais como Anhembi Morumbi, FMU e UniRitter. Nas disputa estavam, além da Ânima, SER Educacional e Cruzeiro do Sul. Por pouco a SER não foi a vencedora. A dona da UniNassau chegou a fechar um acordo, mas com a possibilidade de ser refeito caso uma proposta melhor aparecesse. E, de fato, apareceu.

Mas a conversa não está totalmente encerrada. A Ânima não ficará com todas as marcas sob o guarda-chuva da Laureate. De cara, foi anunciado que a FMU ficará com o fundo de investimentos Farallon, braço brasileiro da norte-americana Farallon Capital Management. As gaúchas UniRitter e Fadergs também devem trocar de mãos. Nessa disputa estariam, novamente, SER Educacional e Cruzeiro do Sul Educacional.

A aquisição da Laureate pela concorrência pode ser considerada a cereja do bolo de fusões e aquisições em 2020, porém essa receita não é nova e vem sendo preparada ano após ano. Em 2019 houve várias, entre elas as aquisições do grupo paranaense Positivo e da tradicional Braz Cubas, da cidade paulista de Mogi das Cruzes, pela Cruzeiro do Sul, que agora ensaia a abertura de capital.

Por que tantas fusões no setor educacional?

Empresas abocanhando empresas não são exclusividade do setor de educação. Analistas apontam que o ambiente está propício para fusões e aquisições. A combinação entre juro baixo e avanço do mercado de capitais derrubaram o custo do capital para grandes empresas e liberam recursos que antes ficavam nas tesourarias a espera de oportunidades de ganhos financeiros. Some-se a isso a crise provocada pela pandemia de Covid-19 que elevou a inadimplência e a evasão e fez crescer o apetite por alunos.

Carlos Monteiro, da CM Consultoria, destaca justamente a importância do aluno na gana das empresas de educação.

“Por volta de 2009, o mercado se profissionalizou e grandes players do mercado financeiro resolveram atuar. Você passou a perceber o aluno como um ativo financeiro muito poderoso e as instituições de ensino passaram a vivenciar o dilema de crescer de forma orgânica ou por aquisição. Mas nem todos estão dispostos a esperar dois, três anos por aprovações do MEC para a abertura de turmas.”

Monteiro tem testemunhado as tendências do mercado de educação superior há muitos anos. Ele é enfático ao afirmar que essa corrida às compras não deve parar até a total consolidação do mercado, quando um pequeno grupo de grandes grupos irá concentrar boa parte dos alunos do país.

Porém, não há razão para desespero. Há espaço para instituições pequenas e médias nesse oceano habitado por grandes predadores. Mas, para sobreviver, elas deverão mudar seus hábitos, ou melhor, seu mindset. Pensar em vocação, em relevância e atuar de forma conjunta são algumas das dicas que o consultor traz em sua entrevista para o Radar da Educação (veja o vídeo acima).

Em sintonia com Carlos Monteiro, a Presidente da Associação Nacional das Universidades Privadas, Elizabeth Guedes, acredita na necessidade de rearranjo do setor para permitir às pequenas e médias dividirem espaço com as grandes com saúde financeira e a entrega de cursos de qualidade.

“Elas vão ter que ser especialistas nas suas regiões. Especialistas na vocação das suas regiões e, mais do que tudo, escolas de grande qualidade e difícil de ser replicada”

E se mostra otimista ao afirmar que “tudo empurra para uma melhora da qualidade acadêmica”.

A entrevista com Elizabeth Guedes, presidente da Anup, está disponível no vídeo a seguir.

Rui Goncalves
por Rui Goncalves
Jornalista especializado em educação.
Editor do Minuto da Educação e do Radar da Educação.