Em tempos de crise, a redução de custos faz-se necessária. No entanto, é possível diminuir o investimento em custos fixos e repassar essa economia para os alunos? Entenda

A pandemia mundial, causada pela transmissão em massa do novo coronavírus, foi decretada no início do mês de março no Brasil e tem impactado, desde então, e de modo cruel, a economia e o desemprego. Afinal, já se passaram mais de 62 dias em isolamento social e podemos analisar com exatidão os principais impactos para o país e, mais especificamente, no setor educacional.

Instituições privadas de ensino, que outrora possuíam a maioria das matrículas concentradas na modalidade presencial, precisaram recorrer às pressas aos recursos tecnológicos para a implantação da modalidade de ensino à distância e, além dos custos do investimento, também sofreram com os altos índices de inadimplência e evasão, ocasionados pelo aumento discrepante do desemprego.

Com isso, um grande questionamento tem surgido na imprensa e complicado a vida de inúmeros gestores de instituições de ensino: pois, já que com a adaptação para o EaD, os estudantes perderam as vantagens da modalidade presencial de ensino, pela qual pagavam mais, quando virá a equiparação e reajuste do valor das mensalidades?

A solicitação está sendo liderada pela UNE (União Nacional dos Estudantes) e conta com um forte movimento.

Mas afinal, na prática, é possível para as instituições, reduzirem esse valor e realizarem a equiparação de valores entre as mensalidades dos cursos EaD e Presencial? Continue a leitura.

É possível economizar com os custos fixos?

Considerados custos fixos, estes são aqueles desembolsos que financiam toda a operação da instituição de ensino, tais como aluguel de empreendimentos, pagamento de prestadores de serviços de limpeza, segurança, softwares, assessorias, contratação e manutenção de docentes e demais colaboradores e também os gastos variáveis com energia elétrica, internet e água encanada. Em resumo, todos os pagamentos que devem ser cumpridos para a viabilização da operação, independente da receita e do fluxo de caixa.

Com a pandemia e o decreto de quarentena, no entanto, as atividades de todas as instituições de ensino foram direcionadas para o home office e os serviços prestados transformados para o digital, tornando possível a redução ou adiamento de alguns custos fixos, como:

Redução da jornada de colaboradores: a medida provisória nº 936 da CLT, criada para flexibilizar as regras trabalhistas neste período de crise, permite a redução proporcional da jornada de trabalho, e consequentemente a do salário do colaborador, durante até 90 dias. O que significa que a sua instituição de ensino tem como opção, reduzir ou limitar os horários de atendimento humano e por consequência gerar economia. Para manter a qualidade e a prontidão, no caso dos atendimentos, é possível a utilização de chatbots que interajam e resolvem problemas simples para o aluno.

Utilização de recurso audiovisual: outra possibilidade é, por meio da plataforma contratada de ensino à distância, disponibilizar vídeos gravados e conteúdos referência, ao invés de trabalhar somente com os encontros diários via plataforma de interação virtual como Hangouts, Zoom, Google Classroom etc, que exigem o envolvimento de mais de um colaborador. Esta prática, além de servir como iniciativa de auto-aprendizado, em que o aluno passa a ser o protagonista e principal responsável em buscar o conhecimento, também irá proporcionar maior aproveitamento nos encontros semanais. A tecnologia deve ser a principal aliada da sua instituição de ensino nesta crise.

Pausa nos pagamentos de energia elétrica, empréstimos e financiamentos: desde o decreto da pandemia, instituições e órgãos públicos têm divulgado ações de suporte para pessoas e empresas, durante a crise. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, pausou por 90 dias o pagamento de empréstimos e financiamentos realizados. Outra empresa que seguiu o mesmo caminho foi a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que suspendeu os cortes no fornecimento de energia por falta de pagamento em até 90 dias.

Reduza os gastos com serviços não essenciais: contas de telefone corporativos podem, durante este período de crise, ser substituídas por chamadas de vídeo via aplicativos gratuitos, por exemplo. Além do mais, é possível analisar o corte nos planos de internet da unidade física da instituição de ensino, temporariamente, de modo a gerar economia. Pensar em todos os custos que podem ser reduzidos, cortados ou suspensos, é essencial para manter o respiro do seu fluxo de caixa.

Mas será que essa economia se aplica ao valor cobrado pelas mensalidades dos alunos?

Movimentos liderados por estudantes, em todo o Brasil, pedem o reajuste da mensalidade em escolas e universidades e, acatada em alguns estados como, por exemplo, a Paraíba, essa medida tem gerado preocupação entre os principais gestores de instituições de ensino superior privadas, devido ao contexto atual de inadimplência e crise econômica.

Já foram apresentados ao Poder Legislativo, portanto, pelo menos 50 projetos de lei com o objetivo de escalonar o desconto das mensalidades escolares em diferentes etapas de ensino, sendo que a maioria deles diferencia os percentuais de desconto de forma proporcional ao número de alunos matriculados na instituição, enquanto outros também asseguram, diante desse cenário, a manutenção dos salários dos professores.

Mas será que essa dada economia de custos fixos possibilitaria o repasse proporcional de desconto aos alunos?

Em definição da medida provisória já divulgada e aceita pela Paraíba, por exemplo, as instituições de ensino privadas deverão fazer o repasse aos consumidores contratantes do montante em dinheiro correspondente e proporcional à diminuição de custos e gastos do estabelecimento de ensino, ocasionada pela suspensão das aulas em razão da pandemia da Covid-19.

O repasse deve ocorrer nas mensalidades vindouras dos contratos de ensino, assim que sejam estimados pelo setor contábil da escola os valores referentes às primeiras diminuições de custos e gastos no transcurso de cada mês em que persistirem as medidas de isolamento social.

Os promotores de Justiça destacaram que as reduções dos custos deverão ser confrontadas com eventuais investimentos adicionais realizados pelas escolas e faculdades, desde que esses gastos tenham sido provocados pela restrição das atividades presenciais de ensino, como custos com a implementação de plataformas e tecnologias para a oferta do ensino a distância, por exemplo.

A recomendação diz ainda que os estabelecimentos privados deverão conceder na mensalidade do mês respectivo descontos proporcionais aos dias em que não houve a prestação dos serviços na forma contratada pelos consumidores. Caso a mensalidade já tenha sido paga no valor integral original, o desconto deverá ser dado na mensalidade seguinte.

A exceção vai para as instituições de ensino que tenham optado pela antecipação das férias, no período restritivo.

O que a sua instituição pode fazer agora, para obter sucesso depois da crise?

Jason Vieira, Economista-Chefe da Infinity Asset, alega que o Brasil está enfrentando uma verdadeira mudança de paradigmas por causa da crise do Covid-19.

“Ontem, nós tivemos o Jack Dorsey do Twitter dizendo que todos os funcionários de hoje em diante e para sempre vão trabalhar em casa. Ou seja, o cenário já está mudando. Essa questão do EaD, que antes era vista pela sociedade como um improviso do sistema educacional, pode se tornar o novo padrão. Muito provavelmente, diante dessa nova perspectiva do EaD, as instituições de ensino vão ter que trabalhar com conjuntos apartados. Ou seja, aquilo que é especificamente EaD, mesmo que com o mesmo professor, deverá ser trabalhado em ambientes e sistemas separados do ensino tradicional. O EaD vai precisar se adaptar para deixar de ser uma sub-modalidade de ensino, como foi por muito tempo, tanto a educação superior quanto básica, e começar a se tornar realmente uma proposta muito semelhante ao do presencial.”

Vieira acredita que, pela redução de custos isso, já seria uma questão muito importante, porque você pode fornecer um ensino de qualidade, por meio de um bom professor e que lecionaria de dentro de sua própria casa. O que reduziria custos fixos como custos trabalhistas, como segurança, limpeza, aluguel etc.

“O que está sendo feito agora é um improviso para que tanto instituições quantos alunos possam passar pela crise, mas que deverá ser melhor pensado no período após. O EaD tem uma capilaridade bem maior, o investimento é menor, mas deve ser de melhor qualidade. É importante fornecer aos professores uma boa conexão e softwares de boa qualidade, para que ele possa fazer um contato melhor com os alunos. A redução de custos começa quando se leva mais a sério o EaD. Dar maior qualidade instrumental para os professores e entender que esse sistema de ensino em termos de custo e de formatação de negócio vai se tornar bem mais atrativo no futuro.”

Adaptação e inovação, estas são as palavras-chave desse momento de crise

Desde que foi decretada a pandemia, o setor educacional ainda vivencia um período de adaptação. No entanto, apesar do cenário instável, é possível reagir de maneira positiva, seu time precisa estar bem informado sobre como a crise impacta o setor educacional. Dessa maneira, os gestores minimizam medos, mitos e aproximam o time da realidade e do que pode ser feito na prática.

Gostou deste conteúdo? Deixe aqui a sua opinião ou ideia para ajudar os gestores de instituições de ensino nesse momento e acompanhe nossa série de webinars informativas sobre a crise do Covid-19 e a educação. Especialistas convidados estão trazendo poderosos insights, estudos e atualizações para o setor para enfrentar este momento. Compartilhe os vídeos com seu time clicando aqui e use a informação como arma para combater a crise.

 

Natasha Monteiro
por Natasha Monteiro