Luiz Felipe Pondé conversa com o nosso blog sobre a influência da tecnologia nos jovens , nas instituições de ensino e como os gestores podem enfrentar esses desafios
Luiz Felipe Pondé faz parte do seleto grupo de keynote speakers do Quero Captação. Evento que acontecerá no dia 25 de outubro, no Expo Center Norte, em São Paulo. O Quero Captação vai contar com a participação de nomes importantes do mercado e da educação. Serão discutidos temas sobre a transformação digital e novas perspectivas para a gestão educacional.
Quem é Luiz Felipe Pondé?
Pondé é um dos principais palestrantes com presença confirmada. Escritor, filósofo e colunista na Folha de São Paulo, ele fala ao blog sobre os desafios das instituições de ensino na era digital.
Atualmente, ele é vice-diretor e coordenador de curso na Faculdade de Comunicação e Marketing da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Além disso, é professor da PUC São Paulo. Sua vasta experiência acadêmica o permite falar com propriedade sobre o universo das instituições de ensino.
Confira nossa entrevista exclusiva do blog da Quero Educação com Luiz Felipe Pondé:
Q.E: Como podemos entender a transformação digital proporcionada pela tecnologia no contexto da educação, hoje?
L.P: A tecnologia na educação é uma mídia, um meio, uma ferramenta, desde a invenção da imprensa por Gutenberg. Se tratando da tecnologia das mídias digitais, além de ser uma mídia, ela é uma mídia capilarizada, que tem uma plataforma interativa. Portanto, aquela fórmula clássica do emissor – conteúdo – mensagem – receptor, nas mídias digitais não é a mesma. Então, todo mundo é emissor e todo mundo é receptor. E isso, à vezes, causa o ruído característico de uma sociedade em rede como a nossa, que é barulhenta. Temos muito conteúdo disponível e, muitas vezes, dificuldade de fazer uma curadoria desse conteúdo. Por isso, no campo da educação, é necessário cuidado de curadoria no sentido de discernir melhor o conteúdo.
Q.E: O que é educar no Brasil hoje e que desafios precisam ser enfrentados cotidianamente?
L.P: Do ponto de vista das instituições privadas, além de transmitir o conteúdo específico da sua disciplina, eu acho que a função da universidade é de preparar o jovem para o conteúdo técnico. Ele precisa entender como a transformação digital, com a entrada dos algoritmos, pode inseri-lo no mercado de trabalho. É preciso uma grade curricular com disciplinas que falam disso. (…) Ao mesmo tempo, não me parece que é função da universidade transformar o aluno em um agente político ideologicamente enviesado. Faz parte da formação a preparação para as transformações do mercado de trabalho, para a longevidade. Até porque as pessoas vão trabalhar cada vez mais. É fundamental formar para as demandas, para o mercado, para as tecnologias. Mas, ao mesmo tempo, a universidade deve dar ferramentas aos jovens para que eles lidem com a humanidade que está neles.
Q.E: Você fala do excesso de expectativa dos jovens de hoje, ao mesmo tempo que existe a falta de desejos e de sonhos. É possível ter um jovem cheio de expectativas e vazio de desejos e sonhos?
L.P: Sim, é possível. Essa diminuição do desejo é, justamente, resultado de um combate a ansiedade por um lado, inclusive por conta da alta medicação. (…) Há também um outro entendimento, defendido por pesquisas, sobre o esvaziamento do desejo dos jovens, Isso foi proporcionado pela ingerência muito agressiva das marcas via mídias sociais. Então, o desejo fica desorientado e a contrapartida da iniciativa psicológica dos jovens fica desarticulada. Credito isso a saturação da influência que os algoritmos geram neles, a partir dos rastros que eles mesmos deixam nas redes. Isso não é só nos jovens. A diferença no caso deles é que ele crescem e vão se constituindo psicologicamente dentro desse ambiente. A ansiedade é resultado da alta expectativa do retorno do reconhecimento, o que gera cansaço na busca de uma vida sem desejo.
Q.E: A que os gestores das instituições privadas precisam se atentar para atender a uma geração como essa de forma eficiente?
L.P: O pós-millenium, geração Z ou Y nasceram com smartphone. Do ponto de vista da reflexão das instituições, é preciso tomar cuidado com a pressão dos pais e dos terapeutas para não transformar a escola em uma usina de autoestima. Na universidade você tem uma tendência dos pais, e até os terapeutas, de pressionar a instituição para que ela se transforme em um parceiro na construção psicológica da autoestima dos jovens. A primeira coisa que vai para espaço é o vínculo com o conhecimento. Os mecanismos devolutivos, conhecidos como avaliação, se tornam objeto de ansiedade. Em outras palavras, fica muito difícil para o aluno lidar com o fato de que ele pode ser reprovado, que ele precisa mostrar o que sabe. Para ele é muito difícil ser testado.
Q.E: Para que cenário deveríamos caminhar na educação de nível superior?
L.P: Eu acho que a acessibilidade, criada dos anos 90 pra cá e que ampliou a rede de universidades privadas foi muito importante. No entanto, precisamos tomar cuidado com os mecanismos e as métricas de avaliação. Afinal, esses mecanismos, que já são objetos de estudo no mundo, às vezes desviam o próprio conteúdo. Também acho que as escolas deveriam ter órgãos geridos por elas mesmas, e não pelo estado. O MEC cria uma burocracia gigantesca. Acho também que deveria haver mais participação do mercado nas pesquisas. Então, seria ideal que as universidades do Brasil, o corpo docente e a gestão não tivessem essa percepção pré-histórica de que a educação deve estar apartada do mercado. Afinal, muitas vezes os alunos são formados nas universidades com determinadas ferramentas e quando chegam ao mercado, essas ferramentas nem existem mais.
Q.E: Você sempre fala de “superar o marketing” das escolas em favor dos danos afetivos. O que quer dizer com isso?
L.P: O marketing faz o jogo das relações comerciais. E no caso das mídias digitais, operar no paradigma do marketing seria reduzir a discussão dessas mídias aos ganhos de acessibilidades. Uma discussão que centra a transformação digital unicamente nos ganhos de acessibilidade. É o que eu chamo de subverter aos paradigmas do marketing. Uma discussão da transformação na educação deve contemplar, também, os efeitos colaterais que a cultura digital causa na sociedade e nos jovens. A superação do paradigma do marketing iria tratar do tema de uma forma dialética. Isso contempla tanto os avanços que são os mais óbvios e mais fáceis de serem identificados, mas que também os efeitos colaterais, o que tem demandado a atenção dos pesquisadores. Esses fatos precisam ser objeto da estrutura interna, por parte dos professores e do material de sala de aula.
Q.E: Para finalizar, o que você poderia dizer/adiantar para os participantes que irão participar de sua palestra?
L.P: Bom, eles podem esperar uma tentativa minha de ser preciso, honesto. Vou apresentar uma visão dialética da transformação digital, tanto nos ganhos, quanto nos efeitos colaterais. Será uma conversa de adultos.
Quero Captação
Para saber mais sobre o maior evento de gestão educacional do Brasil, clique no banner abaixo.
Por lá, você vai ficar por dentro de tudo que acontecerá no evento e conhecerá todos os palestrantes.
Para mais informações sobre gestão e as tendências em educação, inscreva-se em nossa newsletter e fique por dentro de todas as novidades do blog.